quarta-feira, novembro 01, 2006

Bolinhos e bolinhós

Estas últimas semanas de Outubro faziam a minha delícia. Era altura de eu e a minha irmã nos juntarmos às nossas 2 vizinhas, companheiras de brincadeiras e andarmos pelos prédios vizinhos, cantando o "Bolinhos e bolinhós".

O ritual começava por arranjarmos umas caixas de sapatos. As tampas não serviam para nada. Era o parelipípedo com maior profundidade que nos interessava. Nele, recortavamos na superfície maior os orifícios, representando os olhos (umas vezes mais triangulares e outras mais redondas), o nariz e a boca. Da parte de dentro, colávamos uma vela (usando a própria cera da vela) para dar 1 aspecto mais sombrio à máscara que tínhamos feito.

Findas as 4 máscaras, lá íamos, de porta em porta (geralmente apenas no nosso prédio), com as velas acesas, entoando em uníssono:

Bolinhos e bolinhós
Para ti e para nós
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados

À porta da bela cruz
Truz truz (era nesta altura que tocávamos à porta das pessoas)
A senhora que está lá dentro,
Sentadinha num banquinho
Faz favor de vir cá fora
Para dar um tostãozinho ou um bolinho.

Depois da cantoria, se é que ainda não tinham aberto a porta, esperávamos uns momentos de silêncio até abrirem.

Uns ofereciam uns tostãozinhos (até 100$00, geralmente), outros uns bolinhos. Nesses casos, agradecíamos cantando:

Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa

Se recusavam oferecer algo ou se simplesmente não abriam a porta, mostrávamos também o nosso desagrado:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora algum espantalho

A maior questão que se colocava era quando "fazer a ronda": se muito cedo, as pessoas reclamavam quer era ainda muito cedo e que por isso ainda não era tempo de estarmos a pedir e não nos ofereciam nada; se fossem os últimos dias de Outubro, corríamos o risco de outros miúdos se terem antecipado e as pessoas responderem-nos secamente "já demos este ano".

Geralmente as pessoas davam-nos dinheiro. Mas lembro-me de 1 ano em que decidimos ir também a outro prédio e termos conhecido a simpatia em pessoa: a senhora tinha feito um bolo grande especialmente para quem lá fosse aos bolinhinhos e ofereceu-nos. Nós não cabíamos de contentes. Prometemos que no ano seguinte iríamos novamente fazer a ronda aquele prédio e em especial àquele andar, mas não tivemos mais nenhuma vez um resultado semelhante.

No final da ronda, dividíamos o dinheiro e guloseimas igualmente. Não me lembro se havia discussão. Só me lembro que depois colocava o dinheiro no meu mealheiro - 1 casa de louça, oferecida pela D. Dora (a vizinha do 7º andar).

2 comentários:

Mr. Fu disse...

hehe. Yep, lembro-me de no primeiro de novembro andar a bater de porta em porta a pedir ou dinheiro ou doces...iamos em grupos...

...velhos tempos...hj em dia os putos já n veem bater ás portas...(devem andar muito ocupados a jogar playstation...)

Área de Projecto 7ºE disse...

Es de Coimbra certo?
Eu fazia igualzinho...
E agora vou recomeçar a tradição com o meu filho que tem 3 anos.
Queres participar?